Antes de o Senhor
subir aos céus, nos últimos instantes Dele aqui na Terra, Ele disse aos
discípulos: “... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e
até os confins da Terra” (At 1.8). As últimas palavras do Filho de Deus aqui
foram “até os confins da Terra”! Vamos agora discernir o que disse o Mestre
nesse último versículo de suas palavras aqui:
1. “...mas recebereis
poder” Essa palavra poder, do original grego “dunamis”, significa força ou
explosão, mas denota algo sobrenatural. É diferente da força do braço citada em
Jeremias 17.5, aqui a força é natural, mas em Atos 1.8 a força é sobrenatural.
Todos nós sabemos que é o Espírito Santo que está sobre nós, mas aqui a atuação
do Espírito tem uma conotação diferente do que tem sido na maioria de nossas
igrejas, em tudo o que fazemos nela. A Igreja de Atos nasceu por uma iniciativa
do Espírito Santo, e o combustível que movia a Igreja foi o Espírito Santo.
Sabemos no relato de Atos 1 que a Igreja iniciou pela oração, e então desceu
sobre eles o Espírito Santo... e ele continuou sendo a força sobrenatural, o
poder que vem do Alto, que continuou atuando. Mas infelizmente hoje somos
movidos por calendários anuais, eventos para jovens, encontros, reuniões, e
quase nada estamos fazendo iniciando pela oração até que do Alto sejamos
revestidos desse poder. É muito triste, irmãos, e eu errei muito nesse aspecto,
até que o Senhor começou a falar comigo e me mostrar em Sua Palavra diversas
iniciativas do Espírito Santo na Igreja, ocasiões que Ele decidiu e Ele fez,
afinal você conhece alguém para fazer a obra do Espírito Santo melhor que Ele
mesmo? Eu não! Vamos ler um texto em que o Espírito Santo é a força que moveu a
obra, e que iniciou pela oração: “Quando os sacerdotes saíram do lugar santo
(pois todos os sacerdotes que se achavam presentes se tinham santificado, sem
observarem a ordem das suas turmas; também os levitas que eram cantores, ...e
juntamente com eles cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas) ,
quando os trombeteiros e os cantores estavam acordes em fazerem ouvir uma só
voz, louvando ao Senhor e dando-lhe graças, e quando levantavam a voz com
trombetas, e címbalos, e outros instrumentos de música, e louvavam ao Senhor,
dizendo: Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre; então se
encheu duma nuvem a casa, a saber, a casa do Senhor, de modo que os sacerdotes
não podiam ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do
Senhor encheu a casa de Deus.” (2Cr 5.11-14) Irmãos, essa é a unidade que faz a
diferença! Aqui nesse texto os sacerdotes e levitas que estavam encarregados em
ministrar ao Senhor, agora no templo que foi construído por Salomão, eles não
queriam de jeito nenhum iniciar os serviços “na força do braço”, porque já tinham
visto como Deus se movia no Tabernáculo de Davi, e agora eles queriam trazer
também para este serviço aquela unção, aquele mover, aquela força sobrenatural.
O que eles fizeram então? Havia uma escala natural de jejum e oração, mas eles
decidiram quebrar a escala, não jejuando e orando apenas no horário descrito,
mas também fazendo isso nos horários dos outros colegas, e assim todos estavam
fazendo, jejuando e orando sem parar, cada vez mais. Todos unânimes, em uma só
voz! - Amigos será que Deus é capaz de resistir a um grupo que decide buscá-lo
sem parar até que Ele venha? É impossível para Deus resistir ao clamor dos seus
santos! E o que aconteceu? Ele veio! E encheu a casa do Senhor! A glória do
Senhor encheu a casa de Deus! Foi assim também que o serviço da Igreja de Atos
iniciou: começaram orando sem se ausentarem do cenáculo até que do Alto fossem
revestidos, e Ele veio e desceu sobre eles como fogo, fogo esse que incendiou
Jerusalém a ponto da cidade estar cheia com a doutrina dos apóstolos... Não se
falava em outra coisa. Vamos incendiar nossas cidades? Vamos então começar por
jejum e oração até que Ele venha e faça o que quiser. “...e sereis minhas
testemunhas (mártires)” Ah irmãos... se começar a obra do Espírito Santo por
jejum e oração “até que Ele venha” já não é algo tão simpático, muito menos é
ser testemunha de Jesus! Essa palavra “testemunha”, do original grego “martus”,
ou mártir, literalmente significa “que tem finalidade judicial - pessoa que
sofreu torturas, ou mesmo morte, por não renunciar a qualquer outra crença,
religiosa ou política.” Para explicar melhor a proposta de Jesus, o que Ele
quer de nós é que sejamos mártires Dele, representantes legais Dele aqui na
Terra. Ou seja, se Cristo é condenado à morte aqui (e realmente o mundo odeia a
Cristo – leia Jo 15.18) então somos nós, na condição de mártires ou
representantes legais, é que iremos morrer em nome Dele. É claro que você já
sabia disso... Não?! Perdoem-me irmãos, mas ser testemunha Dele significa ser
um fiel representante, que fala em nome Dele, que é perseguido em nome Dele,
que é preso, torturado e até morto se necessário for, tudo em nome Dele: Talvez
o melhor exemplo de testemunha de Jesus na Bíblia, juntamente com o testemunho
do Ap. Paulo, seja o de Estêvão. Vejamos alguns detalhes nos versículos que nos
mostram quem ele foi e o modo como ele confirmou sua fé em Jesus: “Ora,
Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o
povo.” (At 6.8) “Levantaram-se, porém, alguns … e disputavam com Estêvão” (At
6.9) “e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.” (At
6.10) “Então subornaram uns homens...” (At 6.11) “Assim excitaram o povo, os
anciãos, e os escribas; e investindo contra ele, o arrebataram e o levaram...”
(At 6.12) “e apresentaram falsas testemunhas...” (At 6.13) “Então todos os que
estavam assentados no sinédrio, fitando os olhos nele, viram o seu rosto como
de um anjo.” (At 6.15) “Ouvindo eles isto (o discurso em At. 7.2-53),
enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra Estêvão.” (At 7.54)
“Mas ele, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos no céu, viu a glória de
Deus, Jesus em pé à direita de Deus, e
disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem em pé à direita de
Deus.”(At 7.55-56) “Então eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos, e
arremeteram unânimes contra ele e, lançando-o fora da cidade o apedrejavam...”
(At 7.57-58) “E pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes
imputes este pecado. Tendo dito isto, adormeceu...” (At 7.60) O quê? Ser
testemunha de Jesus é estar pronto para confirmar a fé a tal nível? Sim, é isso
mesmo. Pois não era a Estêvão quem aqueles homens estavam perseguindo, mas ao
nosso amado Senhor Jesus, que era inegavelmente reconhecido na vida de Estêvão.
Vejamos como o Senhor se apresentou a Saulo: “e, caindo por terra, ouviu uma
voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és
tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.” (At 9.4-5)
E esse mesmo Saulo, antes um terrível perseguidor da Igreja (At 8.3; 9.1-2),
agora como mártir de Jesus, afirmou a Timóteo: “Ora, todos quanto querem viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). A palavra “piedoso”
significa “fiel, devoto”, e a raiz da palavra aponta para “adorador”. É por
isso que o Senhor Jesus afirmou em Jo 4.23 que o Pai procura adoradores que o
adorem em espírito e em verdade. Ele procura pessoas que decidam viver
piedosamente, restritamente obedientes à Sua vontade, fiéis devotos,
testemunhas, verdadeiros mártires: “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos
seus santos” (Sl 116.15). “...tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria” A Igreja Primitiva recebeu do Senhor Jesus a ordem de evangelizar,
fazer discípulos e estabelecer igrejas em toda a Terra na seguinte expressão:
“... e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até os confins da Terra” (At 1.8). A Igreja de Jerusalém compreendeu
muito bem o mandamento do Mestre, e realmente foram testemunhas de Jesus em
Jerusalém: “...Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome;
contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina...” (At 5.28 – leia também At
2.40-41; 4.1-4; 5.14-16); como também foram fiéis testemunhas de Jesus por toda
a Judéia e Samaria: “... os que foram dispersos iam por toda parte pregando a
palavra” (At 8.4) – “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia,
Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no
conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31 – leia também At 8.1;
8.5-8; 8.14-17; 8.25). Porém havia no coração dos apóstolos e de todos os
demais discípulos uma resistência em anunciar o Evangelho aos povos gentios,
mesmo após a dispersão ocorrida em função da perseguição após a morte de
Estêvão (At 8.1-3). Isso é claramente demonstrado na ocasião em que Pedro
resiste em ministrar a Cornélio, por ele ser gentio (leia At 10). Vejamos a
réplica de Pedro, mesmo após o Senhor ter-lhe dado à visão e falado com ele por
três vezes: “No outro dia entrou em Cesaréia. E Cornélio os esperava, tendo
reunido os seus parentes e amigos mais íntimos.” (At 10.24) “E conversando com
ele, entrou e achou muitos reunidos, e disse-lhes: Vós bem sabeis que não é
lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me
que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo; pelo que, sendo chamado, vim
sem objeção. Pergunto pois: Por que razão mandastes chamar-me?” (At 10.27-29) Irmãos,
vejam que situação! O próprio Deus decide salvar Cornélio; este mesmo organiza
um “culto de evangelismo” reunindo seus parentes e amigos mais íntimos só para
ouvir a pregação de Pedro, e encontram um homem ranzinza e antipático dizendo
que não é lícito que um judeu ajunte-se com estrangeiros, e ainda tem a coragem
de perguntar por quê o chamaram ali? E eu pergunto: onde estava a ordem de
Jesus de pregar o evangelho a toda criatura? (Mc 16.15) E a ordem de fazer
discípulos de todas as nações? (Mt 28.19) Aqui está o primeiro indício de que
os apóstolos, que eram todos judeus, “torciam o nariz” em anunciar o evangelho
aos gentios, “a toda criatura” e fazer discípulos “de todas as nações” – com
exceção de Felipe, que anunciou a Palavra ao eunuco (At 8.26-40). Para os
religiosos, isso seria uma contaminação (leia At 11.1-3 e 11.17-18). Vejamos
também o texto de Atos 11.19: “Aqueles, pois, que foram dispersos pela
tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e
Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.” (At
11.19) Voltemos então à ordem do Senhor Jesus em At 1.8, mas de modo que
possamos compreender o que o Senhor ordenou: “... e sereis minhas testemunhas:
1. tanto em Jerusalém
2. como em toda a Judéia
3. e Samaria
4. e até os confins da Terra.”
As expressões
“tanto”, “como”, “e” “até” indicam uma equivalência ou igualdade. Sabem como eu
pude compreender melhor essa afirmação? Quando um dia, meditando nesse
versículo, fiquei observando uma mesa e cheguei à conclusão óbvia que ela não
poderia ter apenas três pés, ou cinco, mas que o correto é a mesa ter quatro
pés, todos do mesmo tamanho. Da mesma sorte uma cadeira possui também quatro
pés iguais... O que isso quer dizer? Que nós temos que pregar o evangelho e ser
testemunha de Jesus:
1. tanto quanto nos
esforçamos em fazê-lo na nossa igreja ou localidade (Jerusalém = “a sede” ou “a
matriz”);
2. como em toda a na
nossa região (toda a Judéia);
3. e nas regiões ao
nosso redor (Samaria); 4. e até mesmo em todas as nações (confins da Terra).
Para Jesus, não há diferença entre Jerusalém e confins da Terra. O esforço, o
investimento, as orações, tudo o que fazemos como testemunhas de Jesus deve ser
feito com o mesmo peso e a mesma medida: aqui, ali, lá e nas nações.
A IGREJA DE
ANTIOQUIA:
ATÉ OS CONFINS DA TERRA!
Após a destruição de
Jerusalém entre os anos 64 e 70 dC os cristãos foram duramente perseguidos e se
espalharam pelas regiões da Ásia, Oriente e Mediterrâneo, mas ainda estavam
resistentes a ministrar o Evangelho aos gentios: “Aqueles, pois, que foram
dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a
Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente
aos judeus.” (At 11.19) “Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses,
os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor
Jesus. E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao
Senhor.” (At 11.20-21) Mas esses irmãos, que estabeleceram a igreja de
Antioquia foram diferentes dos demais, e entenderam a obra que o Espírito Santo
estava realizando através daquela perseguição contra aos cristãos. A Igreja
estabeleceu-se em Jerusalém e arredores por aproximadamente 40 anos sem pregar
o evangelho aos gentios, somente aos judeus! Esqueceram-se dos confins da Terra
ordenado pelo Senhor. Mas aqueles irmãos de Antioquia perceberam a enorme
oportunidade de espalharem o evangelho a partir de lá, mas por que Antioquia?
“Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma
mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo levedado.”
(Mt 13.33) Antioquia naquele tempo era a terceira maior cidade de todo o mundo
conhecido, ficando atrás apenas de Roma e Alexandria. Antioquia era a principal
rota comercial e marítima do Mediterrâneo com a Ásia, Arábia e o Oriente, o que
foi fundamental para a expansão da Igreja através de Paulo, Barnabé, Silas,
Timóteo, etc. Antioquia era uma cidade cosmopolita, onde viviam pessoas dos
mais diversos lugares, e foi nesse terreno fértil que a Igreja percebeu a
enorme oportunidade de cristãos definitivamente foram “o fermento que levedou
toda a massa”, antes apenas em Jerusalém e arredores, mas agora em todo o mundo
conhecido da época. Barnabé: o homem que percebeu a direção do Vento “Chegou a
notícia destas coisas aos ouvidos da igreja em Jerusalém; e enviaram Barnabé a
Antioquia; o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortava
a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração; porque era homem de
bem, e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor.” (At
11.22-24) Vamos falar um pouco sobre Barnabé. Esse nome em grego significa “filho
da consolação” ou “filho da profecia”. Ele era judeu da tribo de Levi (At
4.36), primo mais velho de João Marcos (Cl 4.10) – aquele que era filho de
Maria, dona da casa onde Jesus se reunia com os discípulos (futura sede da
Igreja de Jerusalém – At 12.5,12). Por isso, muito provavelmente Barnabé estava
entre as testemunhas oculares do Senhor e teve a oportunidade de conhecê-lo e
ouvir muitos dos ensinamentos do Mestre. Os relatos bíblicos a respeito de
Barnabé demonstram que era um grande homem de Deus: “porque era homem de bem, e
cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11.24); em Jerusalém ele vendeu um campo e
o ofertou integralmente aos pés dos apóstolos, para a assistência aos mais
necessitados (At 4.37); Lutero e Calvino defendem a tese de que era Barnabé o
irmão citado por Paulo em 2Co 8.18-19: “E juntamente com ele enviamos o irmão
cujo louvor no evangelho se tem espalhado por todas as igrejas; e não só isto,
mas também foi escolhido pelas igrejas para ser nosso companheiro de viagem no
tocante a esta graça que por nós é ministrada para glória do Senhor e para
provar a nossa boa vontade.” Durante a primeira viagem missionária, quando
estavam pregando em Listra, Barnabé foi chamado Júpiter, e Paulo foi chamado
Mercúrio (At 14.12). Na cultura grega, Júpiter é Zeus, pai de Hermes – ou
Mercúrio. Ou seja, de alguma forma os gregos perceberam a autoridade e a
paternidade de Barnabé sobre Paulo, de modo que Barnabé não foi apedrejado, mas
Paulo foi (At 14.19). Pois Barnabé percebeu que algo estava acontecendo em
Antioquia que ele não tinha visto em nenhuma outra igreja, nem mesmo em
Jerusalém, de modo que ele saiu atrás de Saulo e o levou para Antioquia, e lá
permaneceram por um ano (At 11.25-26). Por que Barnabé saiu a procura de Saulo?
O que ele viu de semelhante entre Saulo e a igreja de Antioquia, de modo que
ele foi buscá-lo para ali permanecer? O “sinal” que a Bíblia nos mostra é que
ali em Antioquia a igreja era de tal forma “testemunha de Jesus” que foram
chamados cristãos pela primeira vez. Coincidência? O fato é que a intromissão
de Barnabé na vida de Saulo e na igreja de Antioquia mudou a história do Novo
Testamento, e provavelmente foi essa intervenção que permitiu ao Evangelho
chegar até nós.
OS QUATRO PILARES DA
IGREJA
“...E perseveravam na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” (At
2.42) Quem de nós, pastores e líderes, não conhecemos esse tão famoso texto?
Lemos e pregamos sobre isso, mas não vivemos! Quando eu e minha esposa
iniciamos uma nova fase de nossa vida ministerial, nós não sabíamos o que fazer
em relação à igreja que o Senhor nos chamou para estabelecer em nossa cidade.
Que bom que não sabíamos! Aí passamos a buscar sinceramente o coração de Deus,
para que Ele nos revelasse o “modelo”, ou o que chamamos de “modo de caminhar”
de nosso ministério. Foi quando o Senhor nos revelou com muita clareza nos
Evangelhos o modo como Jesus congregava-se com os seus discípulos, e depois
repetiram a “fórmula” em Atos também. Vou tentar exemplificar abaixo o que
chamamos de “os quatro pilares da Igreja”:
1. Doutrina dos apóstolos
“ Portanto ide, fazei
discípulos... ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho
mandado...” (Mt 28.19-20) “ e perseveravam na doutrina dos apóstolos...” (At 2.42)
Certa vez o ap. Paulo
fez a seguinte recomendação a Timóteo, seu discípulo: “Tem cuidado de ti mesmo
e da doutrina. Continua nesses deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a
ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Tm 4.16). A salvação se dá em conhecer a
verdade, sem tirar nem acrescentar. Na mesma carta a Timóteo, um pouco mais
adiante, ele diz: “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é
enfatuado, nada entende … homens cuja mente é pervertida e privados da
verdade...” (1Tm 6.3-5). Paulo cita a expressão “sã doutrina” 2 vezes para
Timóteo e mais 2 vezes para Tito, que são justamente as duas cartas que
denominamos como “pastorais”. E mais 16 vezes Paulo prega em suas cartas o zelo
necessário pela doutrina dos apóstolos. Por quê? Porque somos facilmente
levados por ensinamentos contrários ao padrão simples do Evangelho. Quer um
exemplo?
O Evangelho da
Prosperidade, tão disseminado no século 20 e muito mais pregado ainda no nosso século.
Qual o exemplo de Jesus? Ele nada teve em seu nome, nem casa, nem jumento,
nada... nem mesmo o jazigo onde foi sepultado era dele... “Ah mas isso era
Jesus!” alguém pode me responder... Mas e a ordem que Ele, o Senhor, deu aos
seus discípulos? “Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos
vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de
sandálias, nem de bordão...” (Mt 10.9-10). Agora eu pergunto: quantas túnicas?
Uma só. Quanta provisão de ouro e prata? Nenhuma! Aí alguém me pergunta assim:
“Ah então nenhum cristão pode ser rico?” Claro que pode, mas que seja advertido
com as próprias palavras do Mestre: “Quão dificilmente entrarão no reino de
Deus os que têm riquezas!” (Lc 18.24). E assim como o evangelho da prosperidade,
há inúmeros outros evangelhos sendo pregados por aí. Nos escritos de Lutero há
uma frase assim: “Hoje descobri mais uma seita entre os cristãos: a que prega
que podemos viver o Evangelho de Cristo sem a Cruz de Cristo”. Irmãos, o que
Paulo se esforça em nos ensinar como sã doutrina é estritamente os ensinamentos
do Senhor Jesus, nada mais. Lembram do caráter restritivo do Reino? Se temos um
Senhor e Rei, jamais podemos nos afastar disso.
2. Comunhão
“Ora, ao saltarem em
terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima delas, e pão.” Jo 21.9) “ e
perseveravam… na comunhão...” (At 2.42)
Como é bom comer, não
é mesmo? Melhor ainda é comer na companhia dos amigos! Jesus sabia disso e
gostava de ter comunhão com seus amigos... Essa palavra grega “koinonia”
significa literalmente participar, associar, compartilhar. Depois que o Senhor
morreu e ressuscitou, Ele apareceu várias vezes aos seus discípulos, mas em
duas delas Ele ofereceu-se para comer: em Lucas 24.41 o Senhor perguntou a eles
se tinham algo para comer, e lhe mostraram um pedaço de peixe assado e um favo
de mel; e em João 21.9-13 o Senhor preparou peixes e pães para comer com os
discípulos. Em outras ocasiões o Senhor também demonstra grande satisfação em
estar na presença de seus amigos, não que a comida seja de maior importância, e
de fato não é, mas é justamente naquele momento de comunhão que o Espírito
Santo desenvolve em nós um dos principais elementos para o Corpo de Cristo: a
unidade. É durante os momentos de comunhão que cada indivíduo do grupo passa a
conhecer seu próximo, suportar as diferenças entre eles, compreender as
carências uns dos outros, e assim a unidade vai sendo estabelecida. O Senhor
Jesus deu muita importância à comunhão como mecanismo de geração de unidade em
seu grupo. Sem unidade os apóstolos não teriam perseverado em permanecer no
cenáculo “até que do Alto fossem revestidos de poder” (Lc 24.49; At 1.4). A
última oração de Cristo antes da sua crucificação foi pela unidade da Igreja:
“a fim de que todos sejam um... eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam
aperfeiçoados na unidade...” (leia Jo 17). A unidade é como o perfeito
sincronismo entre as peças de um motor, do contrário o motor não funciona. Um
bom exemplo bíblico encontrado para unidade está no Salmo 133, escrito por
Davi: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo
precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu
sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os
montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção,
a vida para sempre.” “Sião” aqui representa a igreja, nela o Senhor ordena sua
benção. “Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu
Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta” (Jo. 12:15). “Mas chegastes ao
monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos
milhares de anjos (Hb 12:22). A palavra união, citada no verso 1 do
Salmo 133, não está bem aplicada em nossa tradução. O original hebraico
“yachad” significa unidade, ou literalmente a menor fração de unidade, a porção
indivisível. Já a palavra união nos dá a idéia de ajuntamento, e não é esse o
sentido empregado na expressão original. Unidade é quando o grupo torna-se
indivisível, e esse é o fruto da comunhão: a geração de unidade. Davi tenta
expressar a força da unidade nos versos 2 e 3: “É como o óleo precioso sobre a
cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão... como o orvalho de Hermom,
que desce sobre os montes de Sião...” A pessoa de Arão descrita aqui aponta
para autoridade, assim como o Monte Sião representa o lugar de onde Yahweh
reina: “porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre.” (leia também
Mq 4.7). É difícil para a nossa mente caída compreender o real significado da
unidade. É como uma bênção indescritível ordenada por Deus. Davi viu a unidade
no seu grupo (2Sm 23.8-23). A força da unidade é algo difícil de mensurar, se é
que seja possível medi-la. Porém a unidade torna uma equipe invencível, assim
como foram os valentes de Davi, e também como foi a Igreja Primitiva: “eis que
enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina” (At 5.28) e “estes que têm
transtornado o mundo chegaram também aqui” (At 17.6). Como foi que essa unidade
começou? “ e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão...” A
comunhão é o principal fator para geração de unidade na Igreja, e a unidade é o
principal fator para o avanço do Reino de Deus na Terra.
3. Partir-do-pão
“Quem, pois, tiver
bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe fechar o seu coração,
como permanece nele o amor de Deus?” (1Jo 3.17) “ e perseveravam… no partir do
pão...” (At 2.42) Certa vez o Senhor contou uma parábola assim: Certo homem
vinha de Jerusalém pelo caminho e foi abordado por bandidos, que lhe roubaram
tudo e ainda o agrediram, machucando-o gravemente. Por coincidência passava por
ali um sacerdote (ou poderia dizer “pastor” em nossos dias) e não o ajudou.
Logo depois passou também um levita (ou poderia dizer “diácono” ou
“presbítero”) e também não o ajudou. Mas passando um pecador, vendo-o, teve
compaixão daquele homem e o ajudou, tratando das feridas e o hospedando em uma
pousada, tudo por conta dele... Esta história está narrada em Lc 10.25-37, e
Jesus a contou a fim de responder a um fariseu, ou “um religioso de destaque”
em nossos dias, quem era o nosso próximo, e ordenou que, aquele que pensa ser
religioso, que seja misericordioso e compassivo e proceda assim também! Cada
dia eu estou mais convencido que os dias finais da Igreja estão muito próximos,
e o que mais me atenta para isso não são as guerras nem os terremotos, mas é o
amor de quase todos que está se esfriando. No original grego, a palavra que
descreve amor é justamente “ágape”, o amor compaixão, o amor misericórdia, o
amor caridade. E eu pergunto, nós por nós mesmos temos esse amor? Não, então de
onde vem? Do Pai. Ou seja, esse amor que se esfriará é dos “crentes”, dos que
pensam ser religiosos, dos que um dia foram alcançados por esse amor e dele
foram cheios... Perdoem-me a sinceridade irmãos, mas a compaixão está longe de
ser uma virtude dos evangélicos em nossos dias. Eu me sinto tão envergonhado
disso que não tenho coragem de admitir que sou um cristão, mas digo que estou
tentando ser um cristão. Quantos irmãos agora, nesse exato momento, estão com
as geladeiras vazias e são membros participantes em nossas igrejas... e a nossa
geladeira como está? Ah irmãos... E o seu carro? Quanto custa o seu carro? Ah
irmãos... qual a marca e o modelo do jumento de Paulo ou dos apóstolos? Jesus
teve algum jumento? Não sei, mas hoje temos tudo isso e não estendemos a mão a
“quase” ninguém... por que quase? Por que só ajudamos aquelas pessoas que temos
simpatia, que estão vivendo de conformidade com o nosso padrão de mérito para
receber alguma ajuda. Deus, tem misericórdia de nós!!
Irmãos sabem qual
será o padrão de separação das ovelhas dos bodes lá naquele Dia? “Quando, pois
vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se
assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações;
e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e
porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos
que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o
reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me
destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me
acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na
prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te
vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando
te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos
enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te? E responder-lhes-á o Rei: Em verdade
vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais
pequeninos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua
esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o
Diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e
não me destes de beber; era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não
me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes. Então também estes
perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou
nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Ao que lhes responderá: Em
verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais
pequeninos, deixastes de o fazer a mim. E irão eles para o castigo eterno, mas
os justos para a vida eterna.” (Mt 25.31-46) Caso você ainda não tenha compreendido
a verdade a respeito dessa passagem, eu quero de dizer que isso acontecerá no
último Dia. Essa situação narrada por Jesus não é uma parábola, nem uma
ilustração, mas é uma narrativa do que de fato ocorrerá no Julgamento Final:
Quando vier o Filho do homem na sua glória, este se assentará no seu trono e
todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará uns dos outros como
o pastor que separa as ovelhas dos cabritos... Isso irá acontecer! E esse dia
está cada vez mais próximo!! Portanto, fiquemos com a mensagem de João Batista:
“Aquele que tem duas túnicas, reparta com o que não tem nenhuma, aquele que tem
alimentos, faça o mesmo.”(Lc 3.11) Se queremos ser verdadeiros cristãos,
testemunhas de Jesus, representantes do Reino de Deus, então já sabemos o que
devemos fazer: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo
15.14).
4- Orações
“Orai sem cessar”
(1Ts 5.17) “ e perseveravam… nas orações.” (At 2.42) O Senhor Jesus iniciou seu
ministério com jejum e oração por 40 dias, logo após ser batizado (Mc 1.12-13,
ver também Mt 4.1-2 e Lc 4.1-2). Além disso, o Senhor orou muito em seus 3 anos
e meio de ministério (Mt 14.23; Mt 26.36-44; Mc 6.46; Lc 6.12; Lc 9.28; Lc
11.1; Lc 18.1-8). Os apóstolos buscaram a presença de Deus por 40 dias em oração
conforme a ordem Dele antes de iniciarem o ministério da Igreja (At 1.14). O
Ap. Paulo permaneceu em Damasco orando, aguardando pela visita de Ananias para
que lhe recuperasse a visão (“pois ele está orando” -At 9.11). Em todo tempo
Paulo exorta a Igreja à oração (Rm 12.12; Ef 6.17-18; Fp 4.6; Cl 4.2-4). E por
que não oramos? É muito triste a constatação que um pastor do qual eu sou muito
próximo tem feito em seus congressos. Ele costuma realizar pesquisas anônimas
com perguntas assim: “quantas horas de televisão você assiste por dia?”, e a
resposta normalmente é: de 3 a 4 horas. E aí tem outra pergunta assim: “e
quantas horas de oração você tem dedicado por dia?” A resposta da maioria
esmagadora é: menos de uma hora. Na grande maioria não passa de 10 minutos de
oração por dia. E isso é no Brasil inteiro! Um dia possui 1440 minutos (um mil
quatrocentos e quarenta minutos!). Você acha que seja razoável para um cristão
orar 10 minutos de 1440 que ele tem no dia? Você tem idéia do quanto isso
representa? 10 minutos de oração representam 0,7% de um dia inteiro! Você
considera esse um tempo de qualidade para um cristão? Você acha que Deus
escolherá esse irmão para levar o Evangelho do Reino às nações? Você acha que
um irmão com 10 minutos de oração está preparado para assumir alguma função no
Reino? Pois 95% dos que se intitulam evangélicos no Brasil não dedicam mais do
que 10 minutos diários de oração. Isso não é fantasia, é estatística. Fantasia
é eu pensar que com essa triste realidade veremos a Igreja triunfar em nossas
cidades, conquistando toda a Terra para Jesus. Orar é falar com Deus, entrar na
intimidade Dele e conhecê-lo de verdade. O salmo 91 diz assim: “Aquele que
habita no esconderijo do Altíssimo...” Habitar não é dar uma passada rápida de
10 minutos não! Habitar significa morar lá, não sair de lá, é montar cabana lá
e ficar. Quem habita lá tem uma cópia da chave, está por lá o tempo todo, é
fácil encontrá-lo lá, escondido junto do Altíssimo. Eu te pergunto: você tem
uma cópia da chave? Lá é o lugar onde o Altíssimo se esconde... você conhece o
caminho? Tem a permissão para entrar? Ah irmãos! Como disse Paulo: orai sem
cessar! Certa vez aconteceu que Tiago foi preso e morto por Herodes. E não
demorou para que Pedro também fosse preso para o matarem, porém havia oração
incessante por parte da igreja a favor dele (At 12.5). Pedro não morreu pois o
Senhor o livrou pelas orações da igreja, mas Tiago morreu. Iremos nos conformar
com as afrontas do inferno contra a Igreja? Iremos aceitar o mundo contra nós?
Porque devemos orar sem cessar, irmãos? Porque a oração é o combustível que
move o coração de Deus a nosso favor. É a oração que faz com que o céu se
movimente e os anjos trabalhem para o nosso triunfo. Não foi por outro motivo
que Paulo recomendou: orai sem cessar. A Igreja Primitiva foi vitoriosa em seu
chamado porque perseverou nesses quatro pilares: doutrina dos apóstolos,
comunhão, partir-do-pão e oração. Não encontro em toda a Bíblia nenhuma
condição para que nós, a Igreja de nosso tempo, sigamos outro caminho diferente
dos apóstolos. Creio mesmo é que devemos seguir seus passos, sem tirar nem
acrescentar nada.
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