O rio Jordão atravessa o território
israelense no sentido norte-sul, fazendo com que suas margens se tornem um
divisor natural de regiões. No centro-norte na margem esquerda (ocidental) a
região de Samaria; a direita Decápolis; no sul a Judéia e no sentido da
nascente do rio, ao norte, a Galiléia. Toda vez que um judeu subia ou descia
por este traçado do rio ele o fazia pela margem direita, lado oriental, a fim
de evitar passar pela região da Samaria. O motivo era a animosidade entre
judeus e samaritanos. No passado o Reino do Norte (Samaria) fora invadido pelos
Assírios e parte do povo de Israel foi levado cativo para a babilônia, o qual
estava sob domínio Assírio. Em contra partida, a Assíria mandou povos das
regiões dominadas (gentios) e também assírios para povoar a região norte de
Israel. Estes estrangeiros se misturaram ao povo judeu e esta mistura de raças
deu origem a um povo denominado samaritanos. Junto com os gentios vieram suas
culturas religiosas, seus ídolos pagãos e estes foram misturados ao culto
judaico, fazendo dos samaritanos um povo politeísta (2Rs. 17:24-41).
Mesmo conhecendo a Jeová através das
escrituras sagradas (Torah), os samaritanos ofereciam seus sacrifícios tanto a
Jeová como a outros deuses também. Daí o principal motivo da rixa com os
judeus, que conservavam suas raízes religiosas, enquanto os samaritanos
tornaram-se um povo rejeitado e fora da benção da Aliança Abrâmica. Apesar de
os samaritanos, em tempos posteriores, voltarem a prática de um culto
monoteísta, conforme a Lei de Moisés exigia, e também na observância da Lei
(Torah), não foram resolvidas as questões de reconciliação entre esses povos.
Em João 4:1-30, Jesus estava
procurando sair da Judéia (sul) e ir para a Galiléia (norte), porque sua fama
aumentava à proporção que batizava mais discípulos que João (Jo.4:1-3), e, para
controlar o ânimo hostil e de oposição dos fariseus, decidiu regressar a
Galiléia. O caminho deveria ser feito como de costume, pelo lado oriental do
rio Jordão, mas Jesus não fez o que era costumeiro. Seguiu pelo lado de Samaria,
e com seus discípulos empreendeu uma viajem longa e cansativa. Ele estava
disposto a alcançar com sua Graça um povo que não era o seu (judeus), afinal
ele havia sido enviado as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt. 15:24), mas
por obra Graça, que é universal e rompe as fronteiras e as barreiras étnicas,
sociais, sócio-econômicas e religiosas (Gl. 3:26-29; Ef.2:14-19), quis o Pai
que Ele comprasse gente de outras tribos, línguas, povos e nações (Ap. 5:9) e
mostrar aos seus discípulos que não há
acepção de pessoa para Deus (At. 1:8).
Na onisciência de Deus, coube ao
Senhor da vida encontrar o povo samaritano, através de uma mulher samaritana!
Jesus a estava esperando, com hora e
lugar marcado (presciência). Assim como fez com cada um de nós; Ele está sempre
nos esperando. Para isto decidiu ficar só, num lugar hostil, porém com toda
segurança divina a sua volta, no meio de um povo rixoso, mas determinado cumprir
a vontade do Pai (2Tm. 1:7). Enquanto mandou seus discípulos comprar comida no
lugarejo mais próximo, ficou ali aguardando aquele momento especial, o de
revelar-se pela primeira vez como Messias (Yeshua Ha Mashiach), e
liberar a Sua Graça a alguém que não era um judeu legitimo (Jo 4:26).
Ela chegou com seu cântaro e
aproximou-se do Poço de Jacó, onde assentado descansava o Senhor da vida. Jesus
estava ali, mas havia duas inconveniências que queriam impedir o Cristo
de revelar-se àquela mulher. Primeiro o fato dela ser uma “mulher”, pois não
era de bom tom ou de costume, um homem judeu conversar a sós com
uma mulher que não fosse sua esposa ou uma parenta muito próxima; e segundo, o
fato dela ser uma samaritana, o que pesava a rixa entre os dois povos. Mas a
alegria que lhe esta proposta (Hb. 12:2) falou mais alto e fez com que Sua
Graça transpusesse as barreiras dos costumes (Gl 3:28; Cl. 3:11)
e da inimizade (Ef. 2:13, 14).
É interessante observarmos no texto
que houve uma estratégia de ação arquitetada pelo Espírito Santo de Deus. Para
iniciar a sua mensagem de vida, Cristo teve, primeiramente que se posicionar,
ou seja, se colocar no caminho daquela mulher samaritana, em segundo
lugar, pela onisciência do Espírito, estar naquele local e na hora certa,
porque não era o costume de alguém ir tirar água daquele poço no horário do
meio dia. Isto é ter ouvido sensível a voz do Espírito e uma atitude de
obediência! Seria mais provável que este encontro ocorresse bem cedo ou bem
à tarde, quando o sol estivesse mais fraco. Mas a verdade é que aquela
samaritana estava procurando um horário que ela não se encontrasse com alguém,
pois a sua história de vida não lhe dava o prazer de ter bons relacionamentos
como veremos mais adiante.
No entanto, o que vemos aqui é todo um
contraditório, pois o que é de costume, ou aparentemente correto,
parece não dizer nada diante da grandeza da obra salvadora empreendida para
aquele povo. Neste sentido, muitos teêm perdido a oportunidade de anunciar a
Salvação em Jesus Cristo!
Temos um paralelo com o velho
testamento, o servo de Abraão, Eliezer (Gen. 24:14). Da mesma maneira, Jesus
quebra o silêncio pedindo um pouco de água àquela mulher. Ao ver Jesus, a
repulsa judaica é desencadeada pela samaritana! Na verdade, dentro dos nossos
corações havia um pouco dessa rixa também, pois quando o Senhor nos atraiu com Seu
Evangelho, Sua Graça e Misericórdia, tivemos a mesma reação; nos armamos com
nossos costumes, conceitos, leis e religiosidade e não nos permitimos deixar
ser tocados pela voz doce e amorosa do Espírito Santo. Nós não estamos falando
do dia em que “aceitamos Jesus” e nos tornamos membros de uma denominação, e
sim, no dia em que a Verdade entrou em nossa mente para operar uma
transformação no interior do ser!
Disse ela: - Como sendo tu judeu me
pedes de beber a mim que sou mulher samaritana? (Jo. 4:9a). Mas foi através
desta indagação hostil, neste tom grosseiro, que Jesus viu um coração amargo,
desprezado e sofredor. “Verdadeiramente Ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e carregou com as nossas dores... (Is. 53:4a)”. Aquela indagação
revelou uma mulher com sérios problemas de alma, com deficiência
em seus sentimentos, com suas emoções abaladas, fatos estes que a levaram a ser
ríspida e legalista, e isto também porque sabia que um judeu jamais usaria da
mesma jarra de beber água de um samaritano para não se tornar impuro, pois
assim julgavam os judeus aos samaritanos! Impuros! Isto é farisaísmo, nossas
“concepções” de justiça e de injustas acerca das pessoas!
Mas o Senhor da vida tinha algo muito
importante e de extrema urgência para aquela mulher. Ele não podia esperar até
que os pré-conceitos deixassem de existir. Então Ele insiste e lhe fala de duas
coisas ao mesmo tempo: amor e eternidade! O dom de Deus citado por Jesus no vs.
10a fala do grande amor do Pai pela humanidade (Jo 3:16) e ao mesmo tempo nos
traz a esperança da vida eterna. Estas duas palavras foram sendo reveladas ao
coração daquela mulher, e vão ao mesmo tempo se tornando como os segredos de
uma chave para abrir aquela alma, e revelar os motivos da amargura, do
desprezo, do sofrimento que levaram-na a perder o amor, o verdadeiro sentido
dele, inclusive pela vida de outras pessoas. Tudo isto fez com que aquela
conversa pudesse continuar!
Muitos cristãos hoje não conseguem
alcançar almas para Jesus, mas não sabem os motivos de não conseguí-las. É
imprescindível, que aquele que leva as boas novas tenha vida no Espírito, ande
no Espírito e seja cheio dEle (At. 1.8). Com isto ele poderá receber em sua
boca as palavras reveladoras do Espírito do Senhor e poder fazer com que a
“conversa” continue e alcance seu propósito. Hoje é preciso dizer mais do que
“Jesus te ama!”.
Neste instante da conversa, Jesus lhe
fala da sua água da vida, água viva que nos faz saltar para a vida eterna.
Aquela que nos dá garantia de alivio imediato, paz e longevidade. Estas
palavras encontraram o coração daquela mulher. Ela estava procurando alivio
para sua alma (Mt.10:28-30) e isto porque até aquele momento a sua vida havia
sido bastante conturbada. Então, a grande sede é revelada e brota da sua alma.
Ela não lembra mais das diferenças entre eles, não pensa mais na inimizade;
aquelas palavras pareciam tê-la feito esquecer todo o seu passado e pré-conceitos.
Ela sentiu que poderia estar diante dAquele que poderia solucionar o seu
problema de espírito e de alma: “Senhor, dá-me dessa água para que não mais
tenha sede...” (Jo.4:15).
Porém, Jesus precisava mostrá-la que
Ele não estava jogando com as palavras, nem fazendo trocadilho com elas; que
não estava tentando resolver algo do qual não tivesse conhecimento de causa.
Sinto muita tristeza ao ver no meio cristão, homens que se dizem servos do
Senhor tentando alcançar as almas jogando palavras chaves aos ouvidos das
multidões, e ainda dizerem, que por visões ou revelações o seguinte: “há em
nosso meio uma pessoa que se encontra enferma de uma doença tal; ou , há em
nosso meio uma pessoa que o Senhor livrou de uma situação de morte”, mas o pior
nisto tudo é o povo que vai buscar estes homens para ouvir todo tipo de palavra
de “revelação” (2Tm. 4:3-4; Jr. 5:30-31).
Contudo com o Espírito de Deus não é
assim. O Senhor já conhecia toda aquela alma, desde o ventre de sua mãe até a
sua eternidade. Então ele a quer dar da água viva, mas antes diz: “Vá e
chama teu marido e vem! (vs.16).
Deixe-me fundamentar algo agora aqui.
Tenho ouvido muitas grosserias de interpretação de texto e demonstração de erro
de continuidade da Palavra de Deus. Dizer que neste momento, o Senhor lançava
em rosto o seu “pecado” (alguns teólogos consideram adultério, outros de
prostituição)! Vejam, em Tiago 1:13 temos a verdade que diz: Deus a ninguém
pode tentar. Se Jesus tivesse preocupado em confrontá-la com algum pecado Ele o
diria sem exitar (Jo 8:44)! Afinal Ele faz isto inúmeras vezes em todo o
evangelho, principalmente com os fariseus! Por outro lado, Ele também não
poderia estar experimentando a samaritana, pois ela poderia cometer um pecado
de mentira, e aí teríamos o Senhor Jesus como tentador! Então o que Jesus
verdadeiramente quis obter com aquela ordem?
Ele tocou na parte problemática,
revelou que tinha conhecimento da sua necessidade de alma, de que havia uma
sede e fome, ele toca na palavra causadora de todos os males daquela samaritana:
Marido!
Isto é revelação, conhecer a alma da
pessoa! Dizer a ela onde dói para poder curá-la! Ele quis dizer: - eu sei o que
tem te entristecido! Ora, a mulher samaritana sabia que o seu problema estava
preso a Lei, pois ela havia transpassado os mandamentos deixados por Moisés.
Mas parece que Jesus estava querendo dizer a ela que ali se encontrava aquele
que é maior que a Lei. Jesus sabia que ela, pela tradição da Lei, poderia se
casar duas, no máximo três vezes, e a Lei já lhe havia dado todas as chances de
um novo casamento. Para ela, a esperança de ser feliz e realizada havia
acabado.
A porta da esperança de ser uma mulher
digna tinha-se fechado, pois nunca mais ela poderia dizer: este é o meu marido
– “ishi”! Dizer que ela era uma mulher adúltera é uma inferência,
pois a Lei permitia ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo – “não
achar graça nela, por haver encontrado nela coisa vergonhosa” Dt.
24:1. Jesus em nenhum momento fala do pecado dela! Não podemos nos esquecer que
os samaritanos também observavam a Lei (Lv. 20:10) e neste pecado ela já teria
sido executada por apedrejamento! Por outro lado ainda temos a Lei do
levirato (Dt. 25:5-6) que obrigava a mulher a casar-se com o cunhado se o
marido morresse sem deixar-lhe herdeiros. Ou seja, temos que ter cuidado com as
afirmações! Quando não temos uma palavra clara e definida no texto é melhor
dizer: Talvez a samaritana fosse... (adultera, prostituta, etc.).
Mas o que disse Jesus? Traga o teu
marido! A palavra é profética (Ele é profeta)! O que tenho para ti é também
para o teu marido! Quero dar a vocês a oportunidade de serem verdadeiramente
uma só carne, pois as outras vêzes que você tentou construir algo foi sem a
minha direção, sem a comunhão do meu Espírito, que é água purificadora (Ez.
36:25-27), não importa quantas vezes você tenha pecado, quantas vezes você
tenha tomado decisões erradas, ou quantas vezes você foi rejeitada, eu
quero fazer algo novo!
Mas naquele instante faltou algo
àquela mulher: Faltou-lhe fé! Respondeu: não tenho marido! Jesus olha
para aquela samaritana, que talvez estivesse querendo virar-se e ir embora e
voltar para a sua amargura e sofrimento e lhe faz uma revelação que vai
mudar, não só o seu semblante, como também o desfecho daquela conversa – a
revelação que é de Deus traz ânimo! (At.21:8-14); e ao contrário de
muitos, não com espírito de julgamento, nem de condenação ou juízo (Jo. 3:17;
8:10-11;15-16) ele disse: “é verdade, não tens marido (vs. 17b)”.
Talvez até quisesse indagar: Poderias tu ter um marido? “Pois cinco maridos
tivestes! (vs. 18)”.
Então, a esperança volta a bater na
porta do coração daquela mulher e ela diz: “És profeta! (vs. 19)”. Deus está
falando comigo! O Deus que tudo sabe, que tudo pode! Eu quero adorá-lo, diga-me
Senhor, onde... Onde posso adorar (sacrificar) ao Deus que fala comigo através
do Seu profeta, aquele que quer e pode resolver todos os meus problemas!
(vs.20). Há esperança para o meu problema! Há esperança para mim!(Jó 14:7-9). Ele
não disse: “vá e não peques mais!” Jesus lhe dá a direção: o altar é
o teu coração, não mais os montes; coloca ali no teu coração a tua oferta e
adora o Pai em espírito e em verdade! (vs. 23). E ela lhe disse: Agora mesmo!
Então aquela mulher saiu pela cidade,
maravilhada, feliz, aliviada, testemunhando do grande amor de Deus para com a
sua vida, falando daquele que é maior que a Lei (Hb. 7:18-19), que pode
restaurar tudo com o ato da Graça, o sangue purificador, o que faz nova todas
as coisas, o sangue que tudo santifica, e não deixa o homem no pecado, nem com
a culpa diante do Pai, mas livre para adorá-lo em espírito e em verdade!
Através daquela vida, muitos samaritanos vieram a crer em Jesus e foram
alcançados por Sua maravilhosa Graça! (vs. 41).
Meu caro irmão, Jesus nunca foi um
legalista, ouça a voz do Espírito Santo e seja livre do pecado do legalismo! O
Senhor Jesus nos deixou o Espírito da verdade (Jo. 16:13) e somente Ele nos
levaria ao convencimento de pecado, da justiça, do juízo e a toda a verdade,
não nos deixaria confundidos (Sl. 34:5). Todo aquele que se achega a Cristo o
faz por ação exclusiva do Espírito Santo (Jo. 6:65); e nesta ação, vem o
convencimento do pecado. Depois que o Senhor manifestou a Sua Graça àquela
mulher, não ficou nela nenhum impedimento, nenhuma restrição que a impedisse de
adorar o Pai. O próprio Jesus nada lhe impôs para que pudesse ir e adorar o
Pai! Se houvesse, Ele a teria censurado como o fez diversas vezes com os
fariseus (Rm. 5:9).
Todo aquele que se achega ao Senhor da vida e abre o
seu coração, de maneira nenhuma será deixado em pecado ou em qualquer ilicitude,
pois pela fé, e somente aos que crêem na palavra ficarão limpos! (1Jo 1:9). Deus
seja Louvado!
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