terça-feira, 3 de setembro de 2013

ÁGUA QUE JORRA PARA VIDA ETERNA

O rio Jordão atravessa o território israelense no sentido norte-sul, fazendo com que suas margens se tornem um divisor natural de regiões. No centro-norte na margem esquerda (ocidental) a região de Samaria; a direita Decápolis; no sul a Judéia e no sentido da nascente do rio, ao norte, a Galiléia. Toda vez que um judeu subia ou descia por este traçado do rio ele o fazia pela margem direita, lado oriental, a fim de evitar passar pela região da Samaria. O motivo era a animosidade entre judeus e samaritanos. No passado o Reino do Norte (Samaria) fora invadido pelos Assírios e parte do povo de Israel foi levado cativo para a babilônia, o qual estava sob domínio Assírio. Em contra partida, a Assíria mandou povos das regiões dominadas (gentios) e também assírios para povoar a região norte de Israel. Estes estrangeiros se misturaram ao povo judeu e esta mistura de raças deu origem a um povo denominado samaritanos. Junto com os gentios vieram suas culturas religiosas, seus ídolos pagãos e estes foram misturados ao culto judaico, fazendo dos samaritanos um povo politeísta (2Rs. 17:24-41).
Mesmo conhecendo a Jeová através das escrituras sagradas (Torah), os samaritanos ofereciam seus sacrifícios tanto a Jeová como a outros deuses também. Daí o principal motivo da rixa com os judeus, que conservavam suas raízes religiosas, enquanto os samaritanos tornaram-se um povo rejeitado e fora da benção da Aliança Abrâmica. Apesar de os samaritanos, em tempos posteriores, voltarem a prática de um culto monoteísta, conforme a Lei de Moisés exigia, e também na observância da Lei (Torah), não foram resolvidas as questões de reconciliação entre esses povos.
Em João 4:1-30, Jesus estava procurando sair da Judéia (sul) e ir para a Galiléia (norte), porque sua fama aumentava à proporção que batizava mais discípulos que João (Jo.4:1-3), e, para controlar o ânimo hostil e de oposição dos fariseus, decidiu regressar a Galiléia. O caminho deveria ser feito como de costume, pelo lado oriental do rio Jordão, mas Jesus não fez o que era costumeiro. Seguiu pelo lado de Samaria, e com seus discípulos empreendeu uma viajem longa e cansativa. Ele estava disposto a alcançar com sua Graça um povo que não era o seu (judeus), afinal ele havia sido enviado as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt. 15:24), mas por obra Graça, que é universal e rompe as fronteiras e as barreiras étnicas, sociais, sócio-econômicas e religiosas (Gl. 3:26-29; Ef.2:14-19), quis o Pai que Ele comprasse gente de outras tribos, línguas, povos e nações (Ap. 5:9) e mostrar aos seus discípulos que não há  acepção de pessoa para Deus (At. 1:8).
Na onisciência de Deus, coube ao Senhor da vida encontrar o povo samaritano, através de uma mulher samaritana!
Jesus a estava esperando, com hora e lugar marcado (presciência). Assim como fez com cada um de nós; Ele está sempre nos esperando. Para isto decidiu ficar só, num lugar hostil, porém com toda segurança divina a sua volta, no meio de um povo rixoso, mas determinado cumprir a vontade do Pai (2Tm. 1:7). Enquanto mandou seus discípulos comprar comida no lugarejo mais próximo, ficou ali aguardando aquele momento especial, o de revelar-se pela primeira vez como Messias (Yeshua Ha Mashiach), e liberar a Sua Graça a alguém que não era um judeu legitimo (Jo 4:26).
Ela chegou com seu cântaro e aproximou-se do Poço de Jacó, onde assentado descansava o Senhor da vida. Jesus estava ali, mas havia duas inconveniências que queriam impedir o Cristo de revelar-se àquela mulher. Primeiro o fato dela ser uma “mulher”, pois não era de bom tom ou de costume, um homem judeu conversar a sós com uma mulher que não fosse sua esposa ou uma parenta muito próxima; e segundo, o fato dela ser uma samaritana, o que pesava a rixa entre os dois povos. Mas a alegria que lhe esta proposta (Hb. 12:2) falou mais alto e fez com que Sua Graça transpusesse as barreiras dos costumes (Gl 3:28; Cl. 3:11) e da inimizade (Ef. 2:13, 14).
É interessante observarmos no texto que houve uma estratégia de ação arquitetada pelo Espírito Santo de Deus. Para iniciar a sua mensagem de vida, Cristo teve, primeiramente que se posicionar, ou seja, se colocar no caminho daquela mulher samaritana, em segundo lugar, pela onisciência do Espírito, estar naquele local e na hora certa, porque não era o costume de alguém ir tirar água daquele poço no horário do meio dia. Isto é ter ouvido sensível a voz do Espírito e uma atitude de obediência! Seria mais provável que este encontro ocorresse bem cedo ou bem à tarde, quando o sol estivesse mais fraco. Mas a verdade é que aquela samaritana estava procurando um horário que ela não se encontrasse com alguém, pois a sua história de vida não lhe dava o prazer de ter bons relacionamentos como veremos mais adiante.
No entanto, o que vemos aqui é todo um contraditório, pois o que é de costume, ou aparentemente correto, parece não dizer nada diante da grandeza da obra salvadora empreendida para aquele povo. Neste sentido, muitos teêm perdido a oportunidade de anunciar a Salvação em Jesus Cristo!
Temos um paralelo com o velho testamento, o servo de Abraão, Eliezer (Gen. 24:14). Da mesma maneira, Jesus quebra o silêncio pedindo um pouco de água àquela mulher. Ao ver Jesus, a repulsa judaica é desencadeada pela samaritana! Na verdade, dentro dos nossos corações havia um pouco dessa rixa também, pois quando o Senhor nos atraiu com Seu Evangelho, Sua Graça e Misericórdia, tivemos a mesma reação; nos armamos com nossos costumes, conceitos, leis e religiosidade e não nos permitimos deixar ser tocados pela voz doce e amorosa do Espírito Santo. Nós não estamos falando do dia em que “aceitamos Jesus” e nos tornamos membros de uma denominação, e sim, no dia em que a Verdade entrou em nossa mente para operar uma transformação no interior do ser!
Disse ela: - Como sendo tu judeu me pedes de beber a mim que sou mulher samaritana? (Jo. 4:9a). Mas foi através desta indagação hostil, neste tom grosseiro, que Jesus viu um coração amargo, desprezado e sofredor. “Verdadeiramente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou com as nossas dores... (Is. 53:4a)”. Aquela indagação revelou uma mulher com sérios problemas de alma, com deficiência em seus sentimentos, com suas emoções abaladas, fatos estes que a levaram a ser ríspida e legalista, e isto também porque sabia que um judeu jamais usaria da mesma jarra de beber água de um samaritano para não se tornar impuro, pois assim julgavam os judeus aos samaritanos! Impuros! Isto é farisaísmo, nossas “concepções” de justiça e de injustas acerca das pessoas!
Mas o Senhor da vida tinha algo muito importante e de extrema urgência para aquela mulher. Ele não podia esperar até que os pré-conceitos deixassem de existir. Então Ele insiste e lhe fala de duas coisas ao mesmo tempo: amor e eternidade! O dom de Deus citado por Jesus no vs. 10a fala do grande amor do Pai pela humanidade (Jo 3:16) e ao mesmo tempo nos traz a esperança da vida eterna. Estas duas palavras foram sendo reveladas ao coração daquela mulher, e vão ao mesmo tempo se tornando como os segredos de uma chave para abrir aquela alma, e revelar os motivos da amargura, do desprezo, do sofrimento que levaram-na a perder o amor, o verdadeiro sentido dele, inclusive pela vida de outras pessoas. Tudo isto fez com que aquela conversa pudesse continuar!
Muitos cristãos hoje não conseguem alcançar almas para Jesus, mas não sabem os motivos de não conseguí-las. É imprescindível, que aquele que leva as boas novas tenha vida no Espírito, ande no Espírito e seja cheio dEle (At. 1.8). Com isto ele poderá receber em sua boca as palavras reveladoras do Espírito do Senhor e poder fazer com que a “conversa” continue e alcance seu propósito. Hoje é preciso dizer mais do que “Jesus te ama!”.
Neste instante da conversa, Jesus lhe fala da sua água da vida, água viva que nos faz saltar para a vida eterna. Aquela que nos dá garantia de alivio imediato, paz e longevidade. Estas palavras encontraram o coração daquela mulher. Ela estava procurando alivio para sua alma (Mt.10:28-30) e isto porque até aquele momento a sua vida havia sido bastante conturbada. Então, a grande sede é revelada e brota da sua alma. Ela não lembra mais das diferenças entre eles, não pensa mais na inimizade; aquelas palavras pareciam tê-la feito esquecer todo o seu passado e pré-conceitos. Ela sentiu que poderia estar diante dAquele que poderia solucionar o seu problema de espírito e de alma: “Senhor, dá-me dessa água para que não mais tenha sede...” (Jo.4:15).
Porém, Jesus precisava mostrá-la que Ele não estava jogando com as palavras, nem fazendo trocadilho com elas; que não estava tentando resolver algo do qual não tivesse conhecimento de causa. Sinto muita tristeza ao ver no meio cristão, homens que se dizem servos do Senhor tentando alcançar as almas jogando palavras chaves aos ouvidos das multidões, e ainda dizerem, que por visões ou revelações o seguinte: “há em nosso meio uma pessoa que se encontra enferma de uma doença tal; ou , há em nosso meio uma pessoa que o Senhor livrou de uma situação de morte”, mas o pior nisto tudo é o povo que vai buscar estes homens para ouvir todo tipo de palavra de “revelação” (2Tm. 4:3-4; Jr. 5:30-31).
Contudo com o Espírito de Deus não é assim. O Senhor já conhecia toda aquela alma, desde o ventre de sua mãe até a sua eternidade. Então ele a quer dar da água viva, mas antes diz: “Vá e chama teu marido e vem! (vs.16).
Deixe-me fundamentar algo agora aqui. Tenho ouvido muitas grosserias de interpretação de texto e demonstração de erro de continuidade da Palavra de Deus. Dizer que neste momento, o Senhor lançava em rosto o seu “pecado” (alguns teólogos consideram adultério, outros de prostituição)! Vejam, em Tiago 1:13 temos a verdade que diz: Deus a ninguém pode tentar. Se Jesus tivesse preocupado em confrontá-la com algum pecado Ele o diria sem exitar (Jo 8:44)! Afinal Ele faz isto inúmeras vezes em todo o evangelho, principalmente com os fariseus! Por outro lado, Ele também não poderia estar experimentando a samaritana, pois ela poderia cometer um pecado de mentira, e aí teríamos o Senhor Jesus como tentador! Então o que Jesus verdadeiramente quis obter com aquela ordem?
Ele tocou na parte problemática, revelou que tinha conhecimento da sua necessidade de alma, de que havia uma sede e fome, ele toca na palavra causadora de todos os males daquela samaritana: Marido!
Isto é revelação, conhecer a alma da pessoa! Dizer a ela onde dói para poder curá-la! Ele quis dizer: - eu sei o que tem te entristecido! Ora, a mulher samaritana sabia que o seu problema estava preso a Lei, pois ela havia transpassado os mandamentos deixados por Moisés. Mas parece que Jesus estava querendo dizer a ela que ali se encontrava aquele que é maior que a Lei. Jesus sabia que ela, pela tradição da Lei, poderia se casar duas, no máximo três vezes, e a Lei já lhe havia dado todas as chances de um novo casamento. Para ela, a esperança de ser feliz e realizada havia acabado.
A porta da esperança de ser uma mulher digna tinha-se fechado, pois nunca mais ela poderia dizer: este é o meu marido – “ishi”! Dizer que ela era uma mulher adúltera é uma inferência, pois a Lei permitia ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo – “não achar graça nela, por haver encontrado nela coisa vergonhosa” Dt. 24:1. Jesus em nenhum momento fala do pecado dela! Não podemos nos esquecer que os samaritanos também observavam a Lei (Lv. 20:10) e neste pecado ela já teria sido executada por apedrejamento! Por outro lado ainda temos a Lei do levirato (Dt. 25:5-6) que obrigava a mulher a casar-se com o cunhado se o marido morresse sem deixar-lhe herdeiros. Ou seja, temos que ter cuidado com as afirmações! Quando não temos uma palavra clara e definida no texto é melhor dizer: Talvez a samaritana fosse... (adultera, prostituta, etc.).
Mas o que disse Jesus? Traga o teu marido! A palavra é profética (Ele é profeta)! O que tenho para ti é também para o teu marido! Quero dar a vocês a oportunidade de serem verdadeiramente uma só carne, pois as outras vêzes que você tentou construir algo foi sem a minha direção, sem a comunhão do meu Espírito, que é água purificadora (Ez. 36:25-27), não importa quantas vezes você tenha pecado, quantas vezes você tenha tomado decisões erradas, ou quantas vezes você foi rejeitada, eu quero fazer algo novo!
Mas naquele instante faltou algo àquela mulher: Faltou-lhe fé! Respondeu: não tenho marido! Jesus olha para aquela samaritana, que talvez estivesse querendo virar-se e ir embora e voltar para a sua amargura e sofrimento e lhe faz uma revelação que vai mudar, não só o seu semblante, como também o desfecho daquela conversa – a revelação que é de Deus traz ânimo! (At.21:8-14); e ao contrário de muitos, não com espírito de julgamento, nem de condenação ou juízo (Jo. 3:17; 8:10-11;15-16) ele disse: “é verdade, não tens marido (vs. 17b)”. Talvez até quisesse indagar: Poderias tu ter um marido? “Pois cinco maridos tivestes! (vs. 18)”.
Então, a esperança volta a bater na porta do coração daquela mulher e ela diz: “És profeta! (vs. 19)”. Deus está falando comigo! O Deus que tudo sabe, que tudo pode! Eu quero adorá-lo, diga-me Senhor, onde... Onde posso adorar (sacrificar) ao Deus que fala comigo através do Seu profeta, aquele que quer e pode resolver todos os meus problemas! (vs.20). Há esperança para o meu problema! Há esperança para mim!(Jó 14:7-9). Ele não disse: “vá e não peques mais!” Jesus lhe dá a direção: o altar é o teu coração, não mais os montes; coloca ali no teu coração a tua oferta e adora o Pai em espírito e em verdade! (vs. 23). E ela lhe disse: Agora mesmo!
Então aquela mulher saiu pela cidade, maravilhada, feliz, aliviada, testemunhando do grande amor de Deus para com a sua vida, falando daquele que é maior que a Lei (Hb. 7:18-19), que pode restaurar tudo com o ato da Graça, o sangue purificador, o que faz nova todas as coisas, o sangue que tudo santifica, e não deixa o homem no pecado, nem com a culpa diante do Pai, mas livre para adorá-lo em espírito e em verdade! Através daquela vida, muitos samaritanos vieram a crer em Jesus e foram alcançados por Sua maravilhosa Graça! (vs. 41).
Meu caro irmão, Jesus nunca foi um legalista, ouça a voz do Espírito Santo e seja livre do pecado do legalismo! O Senhor Jesus nos deixou o Espírito da verdade (Jo. 16:13) e somente Ele nos levaria ao convencimento de pecado, da justiça, do juízo e a toda a verdade, não nos deixaria confundidos (Sl. 34:5). Todo aquele que se achega a Cristo o faz por ação exclusiva do Espírito Santo (Jo. 6:65); e nesta ação, vem o convencimento do pecado. Depois que o Senhor manifestou a Sua Graça àquela mulher, não ficou nela nenhum impedimento, nenhuma restrição que a impedisse de adorar o Pai. O próprio Jesus nada lhe impôs para que pudesse ir e adorar o Pai! Se houvesse, Ele a teria censurado como o fez diversas vezes com os fariseus (Rm. 5:9).
Todo aquele que se achega ao Senhor da vida e abre o seu coração, de maneira nenhuma será deixado em pecado ou em qualquer ilicitude, pois pela fé, e somente aos que crêem na palavra ficarão limpos! (1Jo 1:9). Deus seja Louvado!

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